25/05/2007 - AGÊNCIA CHASQUE. Com a liberação do milho transgênico os casos de contaminação continuarão acontecendo só que de forma muito mais acelerada. Além da mistura no maquinário, o milho transgênico se dispersará muito mais rápido pois sua polinização é aberta e feita pelo vento.
Neste mês de maio o governo liberou uma variedade de milho transgênico para plantio comercial. É o milho chamado de Liberty Link, da multinacional alemã Bayer. A mesma empresa também venderá o herbicida (mata mato) de nome Liberty para ser aplicado sobre o milho. É o mesmo caso da soja transgênica Roundup Ready da Monsanto resistente ao herbicida Roundup (glifosato).
É importante destacar que esta decisão ainda não é final e pode ser alterada. Órgãos como Ibama e Anvisa podem contestar a decisão. E o governo ainda deverá avaliar os impactos sociais e econômicos desta liberação. Depois disso, se for mantida a decisão, o Ministério da Agricultura deverá registrar a semente, o que leva mais de um ano. Ou seja, qualquer plantio de qualquer tipo de milho transgênico hoje em dia é ilegal e deve ser denunciado.
A liberação do milho transgênico coloca em risco toda a diversidade de variedades crioulas que é cultivada e conservada por agricultores e camponeses de todo o país. Não há como evitar que o milho transgênico se misture e contamine as variedades crioulas. Não há nenhum caso conhecido de país que tenha liberado o plantio do milho transgênico e que não tenha prejudicado a agricultura ecológica e mesmo a convencional não transgênica.
Na Europa já foi reconhecido que a contaminação irá acontecer. Agora se discute qual será a porcentagem de transgênicos permitida em produtos orgânicos e convencionais. Aceitar essa situação é um grande desrespeito a consumidores que desejam alimentos mais saudáveis e livres de agrotóxicos e transgênicos. Também é um desrespeito aos agricultores, que têm todo o direito de cultivar suas sementes sem serem prejudicados.
Vários agricultores vêm sofrendo prejuízos no Brasil com a soja transgênica. Mesmo aqueles que não plantam essas sementes. O governo do Paraná já detectou contaminação com até 9% de transgênicos nas sementes convencionais de soja que são comercializadas no estado. E o Paraná vem desde 2003 combatendo o plantio de transgênicos e fiscalizando as lavouras. Também há casos de produtores orgânicos que tiveram que vender a produção como convencional porque ela foi misturada na colhedora ou no caminhão com soja transgênica plantada por vizinhos. Dependendo do nível de contaminação a Monsanto, no caso da soja, ainda pode cobrar uma taxa do agricultor por ele ter usado sua tecnologia.
Com a liberação do milho tudo isso continuará acontecendo só que de forma muito mais acelerada. Além da mistura no maquinário, o milho transgênico se dispersará muito mais rápido pois sua polinização é aberta e feita pelo vento.
A única saída para evitar a contaminação é não plantar o milho transgênico e mobilizar os vizinhos para também não plantarem. Este debate deve ser levado para dentro das associações, sindicatos e demais organizações dos agricultores. Mesmo um canteiro plantado só para conhecer a semente já é suficiente para contaminar plantações vizinhas.
A pressão das empresas e do agronegócio para a liberação dessas sementes é muito grande. Tanto é que o milho Liberty Link foi aprovado mesmo sem estudos para comprovar que ele não faz mal à saúde.
Quando começar a ser plantado, o milho transgênico entrará na nossa alimentação. Isso pode acontecer via farinha, fubá, bolos e outros produtos. Também pode entrar indiretamente através de aves, suínos e outros animais que comeram milho transgênico. Tudo deverá ser rotulado. Mas infelizmente sabemos que pode acontecer o mesmo que acontece com a soja e nada ser rotulado.
Novamente, é importante que essa discussão seja levada adiante. O trabalho de resgate, multiplicação, melhoramento e troca de sementes deve ser reforçado. Além de ser uma fonte mais garantida de sementes este trabalho permite que o agricultor tenha uma produção ecológica pouco ou nada dependente de insumos externos. A semente transgênica é o caminho oposto. Prende o agricultor ao manejo convencional e altamente dependente de insumos caros.
Gabriel Fernandes é assessor técnico da ASPTA (Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa).
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