Andrew Pollack
A Monsanto prometeu na quarta-feira que desenvolveria sementes capazes de duplicar o rendimento das plantações mundiais de milho, soja e algodão, até 2030, com consumo de água, terra e energia 30% mais baixos no cultivo.
O anúncio, que surgiu no momento em que líderes mundiais estão reunidos em Roma para discutir a alta nos preços e a crescente escassez dos alimentos, parece ao menos em parte destinado a conquistar aceitação para as safras geneticamente modificadas, demonstrando que elas podem desempenhar papel importante na alimentação do mundo.
Boa parte do que a Monsanto oferece em seu plano são coisas que a empresa já está fazendo, de qualquer maneira, ainda que o objetivo agora tenha sido formalizado.
A Monsanto anunciou ter adotado o seu novo compromisso depois de consultas a agricultores, líderes políticos, acadêmicos e grupos de pressão, quanto ao que precisa ser feito para elevar a produção de alimentos e atender à população crescente bem como à demanda cada vez maior por biocombustíveis, sem que seja preciso converter ainda mais áreas florestais em terras aráveis.
"Em resumo, o mundo preciso ao mesmo tempo produzir mais e conservar mais", afirmou Hugh Grant, o presidente-executivo da companhia, em comunicado.
Mas a possível contribuição da engenharia genética, ou seja, o acréscimo de genes de bactérias ou outros ao ADN das plantas, ainda está em debate como fonte de um possível aumento de produção.
Uma recente revisão de tecnologia agrícola promovida pelas Nações Unidas e pelo Banco Mundial considera que o papel da engenharia genética quanto a isso será limitado. Mas em Roma, na terça-feira, Edward Schafer, o secretário da Agricultura dos Estados Unidos, disse que a biotecnologia seria essencial se o mundo deseja elevar a oferta de alimentos para atender à crescente demanda, até 2030.
A soja, algodão e milho geneticamente modificados para elevar sua tolerância a herbicidas, insetos ou ambos são usados amplamente nos Estados Unidos e em diversos outros países. Mas na Europa e outras áreas seu uso é rejeitado devido a preocupações quanto a possíveis efeitos ambientais e de saúde.
Talvez em um esforço por evitar controvérsias, o anúncio da Monsanto não utiliza o termo "engenharia genética". Refere-se, em lugar disso, a "outras tecnologias", além da reprodução seletiva.
A meta da Monsanto de duplicar o rendimento até 2030, ante o nível de 2000, requereria forte aceleração no ritmo de aceleração da produtividade agrícola. James Specht, especialista em genética da soja na Universidade do Nebraska, diz duvidar que o objetivo seja factível.
"A relação entre exagero e realidade nesse caso é essencialmente o infinito", disse Specht. "Ver uma alteração exponencial na curva de rendimento é improvável".
Specht afirmou que nas fazendas irrigadas do Nebraska, o rendimento das safras de soja vem crescendo em cerca de 1,5 bushel por acre/ano. Nesse ritmo, duplicar os rendimentos demoraria 83 anos, ante os 125 bushels por hectares registrados em 2000.
Mas executivos da Monsanto dizem que uma nova técnica conhecida como seleção assistida por marcadores poderia duplicar o ritmo de avanço, com relação à simples reprodução seletiva. A técnica não envolve alterar as plantas pela inserção de genes externos. Em lugar disso, ela emprega testes genéticos para ajudar a escolher que plantas usar na reprodução cruzada convencional, o que acelera imensamente o processo e melhora sua eficiência.
Mas os executivos da Monsanto dizem que a engenharia genética pode oferecer elevação adicional na produção, além disso. As plantas resistentes a insetos da empresa já ajudam a proteger o algodão e o milho. E cientistas do grupo estão trabalhando em alterações genéticas que fariam com que as plantas crescessem melhor e com menor uso de água e fertilizante.
Além disso, a empresa não está falando apenas sobre os Estados Unidos. Afirmou que seu compromisso de dobrar a média de rendimento se aplica a todos os países que têm acesso às sementes e técnicas modernas de produção agrícola que ela oferece, especialmente Argentina e Brasil, além dos Estados Unidos.
O Brasil, por exemplo, produz apenas 145 bushels de milho por hectare, ante 392 nos Estados Unidos. Por isso, seria possível realizar ganhos importantes levando a produção brasileira a níveis americanos, sem que fosse preciso elevar em nível semelhante a produção nas fazendas de Nebraska.
Alguns críticos da biotecnologia dizem que a engenharia genética até agora não conseguiu elevar rendimentos de maneira comprovada, ainda que possa oferecer mais conveniência aos agricultores. Também disseram que as safras biotecnológicas desenvolvidas até o momento se destinam em larga medida a alimentar gado em países ricos, e não a melhorar a produção dos pequenos agricultores em países pobres.
Como parte de seu anúncio da quarta-feira, a Monsanto informou que trabalharia para melhorar as vidas dos agricultores, incluindo os mais pobres, aos quais poderia fornecer tecnologia gratuitamente. A empresa recentemente iniciou um projeto, com outras organizações, para desenvolver milho tolerante à seca para cultivo na África. A Monsanto dispensará o pagamento de royalties pelo uso de sua tecnologia.
A empresa também anunciou na quarta-feira que doaria US$ 10 milhões, em prazo de cinco anos, a programas do setor público cujo objetivo é elevar o rendimento das plantações de arroz e trigo, dois produtos que não estão entre suas áreas de concentração. Boa parte do trabalho de desenvolvimento desses dois alimentos básicos é conduzido por governos e universidades.
Tradução: Paulo Migliacci ME
Fonte: Invertia notícias
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