quarta-feira, 17 de junho de 2009

Comentários ao artigo "Transgênicos: plantio de milho ogm beneficia ambiente da UE", do site Último Segundo

Artigo do Último Segundo, "Transgênicos: plantio de milho ogm beneficia ambiente na UE", se baseia em estudo de Graham Brookes, da PG Economics, para afirmar que houve diminuição da aplicação de agrotóxicos e melhoria da qualidade do milho. Este artigo merece ser comentado.
Para quem não sabe, Graham Brookes é um consultor inglês habitualmente procurado pelas empresas da engenharia genética, por isso não é de estranhar a avaliação parcial necessariamente favorável aos OGM. Convém pois adicionar informações, bastando as mais recentes, que demonstram os prejuízos e perdas com o cultivo dos transgênicos.
O estudo não contempla certamente os prejuízos com a contaminação das culturas convencionais e biológicas (e consequente perda de certificação) e os custos para evitar a contaminação, pois se o fizesse teria de chegar à mesma conclusão de um relatório alemão publicado pela INTERBIO Alemã que contabiliza os custos e benefícios económicos associados ao cultivo de OGM. As conclusões: no curto prazo, e em condições limitadas, alguns agricultores podem receber benefícios económicos reduzidos. De resto, e em termos gerais e macro-econômicos, os únicos vencedores são as empresas (essencialmente a Monsanto) que produzem e inventam estas sementes, enquanto que toda a sociedade é chamada a cobrir os prejuízos que atingem já os milhares de milhões de dólares. Um bom negócio, portanto, mas só para muito poucos (GM agriculture incurs more costs than benefits, German BÖLW, Press Release, Berlin, 20 March 2009 http://www.boelw.de/uploads/media/BOELW_Schadensbericht_Gentechnik090318.pdf)
Para além disto na análise do cultivo dos OGM temos de ter sempre em consideração outros efeitos colaterias, e farão cair por terra eventuais benefícios a curto prazo, tais como:
- O aparecimento de resistências ao Bt que já começaram a verificar-se (Mari N. Jensen, UA entomologists have published a report on their discovery of Bt-resistant bollworms in Mississippi and Arkansas, College of Agriculture and Life Sciences, February 7, 2008, http://uanews.org/node/18133)
- Os danos ambientais com a toxina produzida pelas culturas Bt. (Effect on Soil Biological Activities Due to Cultivation of Bt. Cotton, Navdanya, 2009. www.navdanya.org/report1.pdf;  Rosi-Marshall E.J. et al. (2007), « Toxins in transgenic crop byproducts may affect headwater stream ecosystems », Proceedings of the National Academy of Sciences,104(41):16204-16208. Contact: erosi@luc.edu)
- Quebras de produção (Doug Gurian-Sherman, Failure to Yield - Evaluating the Performance of Genetically Engineered Crops, UCS, March 2009, http://www.ucsusa.org/food_and_agriculture/science_and_impacts/science/failure-to-yield.html ).
Mais de uma década de cultivos de transgênicos no Mundo já nos dão sinais suficientes de que os transgênicos não são o caminho, o futuro para a agricultura, pelo contrário, sugem evidências de que maior biodiversidade agrícola e o modo de produção biológico poderão responder melhor face às alterações climáticas.
Alexandra Azevedo
Este comentário é de Alexandra Azevedo, que tentou fazê-lo no site do Último Segundo, mas não conseguiu. Dessa forma, decidi publicá-lo aqui, com autorização da autora.

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