Os resultados deste estudo leva os pesquisadores a questionarem medidas de segurança bem mais restritivas, o tipo de agricultura mais tradicional praticada no México - onde a polinização do milho é feita pelo vento, e onde os agricultores têm o costume de trocar suas sementes - parece agravar os riscos de uma contaminação rápida pelos OGM.
O artigo que publicará em detalhes as conclusões sairá no próximo número da revista
Molecular Ecology. Foi redigido por Elena Alvarez-Buylla, do Instituto de Ecologia da Universidade Nacional Autônoma do México, a UNAM, com a colaboração de uma dezena de outros pesquisadores.
Este trabalho pode relançar a polêmica causada em 2001 por um artigo publicado na revista Nature, onde os autores, os biólogos David Quist e Ignacio Chapela, da Universidade de Berkeley na Califórnia, revelou que o milho criolo (tradicional) da região de Oaxaca, um dos centros de origem deste cereal, estavamcontaminados pelos genes Roundup Ready e Bt, propriedades da firma americana Monsanto.
Na sua obra, O Mundo Segundo Monsanto (Ed. Radical Livros), Marie-Monique Robin conta sobre a armação que M. Chapela foi vítima, graças a empresa dominante no mercado dos trasgênicos. Nature publicou uma retratação, dizendo que o artigo dos dois biólogos era insuficientemente apoiado.
Sete anos mais tarde, o trabalho dirigido por Elena Alvarez-Buylla confirma as conclusões do trabalho anterior, conforme um relatório publicado na Nature em 13 de novembro. Os pesquisadores descobriram os transgenes em 3 dos 23 campos da serra norte de Oaxaca, onde as amostras tinham sido tirados em 2001.
A americana Allison Snow, da Universidade da Califórnia, autora de um estudo preliminar, em 2005, que parecia invalidar as descobertas de Ignacio Chapela e David Quist (e havia sido também explorada pelos partidários dos OGM), publica no mesmo número da Molecular Ecology um nota complementária elogiando, onde ela julga que a análise molecular conduzida pela equipe da UNAM é "muito boa" e coloca em evidência "os sinais positivos dos transgenes".
"Faz 2 anos que estamos batalhando para publicar os resultados denosso estudo", declara Elena Alvarez-Buylla. "Nunca eu tinha encontrado tantas dificuldades no curso de minha carreira! Estão tentando frear a difusão desses dados científicos". O biólogo José Sarukhan, pesquisador da UNAM e membro da Acadêmia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, tinha recomendado o artigo para a revista desta instituição. Este foi rejeitado em março, pelo motivo de que ele poderia provocar "a atenção excessiva da imprensa, por razões políticas no tema ambiental"...
Como, apesar da moratória, os transgenes dos OGM emigraram até o final das montanhas de Oaxaca, mas também no Estado de Sinaloa, o maior produtor de milho para consumo humano, no Norte, ou à Milpa Alta, um distrito da periferia do México? Eles são encontrados em 1% dos terrenos analisados, o que é muito no contexto mexicano, onde 75% do milho plantado vêm de grãos selecionados pelos próprios agricultores.
A primeira hipótese é que certos agricultores tenham importado ilegalmente sementes transgênicas. Fortes suspeitas pesam também na empresa da Pionner, grande provedora de sementes de milho híbridas, compradas pelo México dos Estados Unidos e distribuídas aos pequenos agricultores através de programas de ajuda governamentais.
Mas dados preliminares indicam que um terço das sementes Pioneer está contaminado pelos OGM, e a Monsato conseguiu impedir qualquer tipo de rotulagem para distinguí-las na venda.
Os autores do estudo pedem que as "medidas de segurança" sejam reforçadas para preserva as espécies nativas do milho, sobretudo no México, seu "centro de origem". É necessário deixar os laboratórios realmente independentes, e adaptar os critérios de análise molecular à realidade mexicana, ao invés de se fixar "nos métodos utilizados nos países como os Estados Unidos, que têm um sistema agrícola bem diferente do nosso".
Mas a principal preocupação dos pesquisadores hoje, consiste nos projetos das empresas farmacéuticas, que querem rentabilizar a biomassa do milho, e a utilizar como um bioreator para as vacinas e anticoagulantes. "Em função dos incidentes que já aconteceram nos Estados Unidos, onde eles tiveram dificuldade em separar estes bioreatores dos OGM, nós tememos que o milho se transforme em lixo da indústria farmacêutica, em detimento de sua vocação alimentar", avisa Elena Alavrez-Buylla. "O que faremos quando os anticoagulantes chegarem às tortillas dos mexicanos?"