"Os alimentos cultivados de maneira orgânica possuem maiores concentrações de substâncias que apresentam propriedades funcionais como ação antioxidante, anticancerígena e estimulante do sistema cognitivo se comparados aos produzidos de maneira convencional.
Esses foram os resultados de estudos desenvolvidos no Instituto de Biociências (IB) da Unesp, câmpus de Botucatu, pela pós-doutoranda Maria Rosecler Miranda Rossetto, que analisou beterraba, brócolis, oura e couve, convencionais e orgânicos, obtidos por meio de seis produtores do município de Botucatu, e pela doutoranda Suraya Abdallah da Rocha, que avaliou partes de 20 vegetais, geralmente descartadas, como cascas, folhas e talos.
Entre as substâncias estudadas pelas pesquisadoras estiveram os compostos fenólicos e flavonóides que servem para “seqüestrar” os radicais livres encontrados em excesso no organismo humano, modular enzimas do processo inflamatório e quelar metais. Além da propriedade antioxidante, que contribui na prevenção de uma série de doenças crônicas degenerativas, eles são benéficos ao sistema cognitivo e atuam como agentes anticancerígenos.
Suraya destaca que os fenóis totais foram mais elevados nas folhas de mandioca e de uva cultivadas de modo orgânico, enquanto que, no cultivo convencional, os talos, a casca de berinjela, as folhas de brócolis e rabanete, apresentaram maiores teores dessa substância.
Ainda segundo ela, em relação à quantia de flavonóides totais, algumas espécies não apresentaram diferenças significativas entre os modos de cultivo estudados, como as cascas de abóbora, berinjela, laranja e maracujá; a folha de rabanete; e os talos de brócolis e couve. Ainda, segundo ela, apenas a casca de banana, a folha de cenoura e a de uva, cultivadas de modo orgânico, apresentaram maiores teores de flavonóides.
Na couve, os níveis de flavonóides foram significativamente maiores na produção orgânica e, na beterraba, a tendência foi de mais acúmulo de compostos fenólicos na casca, talo, polpa e folha.
Sobre essas substâncias, Maria Rosecler salienta ainda que, nas ramas de cenoura a quantia de flavonóides supera em cem vezes o teor presente na polpa desse alimento.
Outra análise foi em relação aos carotenóides, pigmentos responsáveis pelas cores de frutas, raízes, tubérculos e folhas de hortaliças, que são importantes fontes de vitamina A e não têm ação cumulativa no organismo humano, além de prevenir contra o câncer.
Nesse caso, segundo a pós-doutoranda, os brócolis oriundos de sistema de produção convencional apresentaram 42% a mais de carotenóides totais em relação aos produtos de origem orgânica.
“Entretanto, quando comparados com a curva de beta-caroteno (pró-vitamina A), os brócolis orgânicos contêm cerca de 50% a mais dessa substância. O mesmo é observado para polpas de cenoura convencionais e orgânicas”, explica Maria Rosecler.
Ainda de acordo com ela, esse tipo de substância foi encontrado em maior quantidade nas folhas de cenouras orgânicas, que superam em aproximadamente 25% o valor presente no produto convencional.
Os teores de glicosinolatos, substâncias com alto potencial anticancerígeno, também foram avaliados. Os ensaios realizados apontaram que brócolis e couve cultivados sob o sistema orgânico possuem maior quantidade de glicosinolatos totais.
Também compuseram as análises as poliaminas, principalmente, putrescina, espermidina e espermina. Segundo Maria Rosecler, a alta ingestão desses tipos de poliaminas está associada à proliferação de células cancerígenas, porém, ela destaca que o consumo em doses adequadas, apresenta efeito contrário, desempenhando ação preventiva.
Nos trabalhos realizados pelas pesquisadoras, foi possível observar que os alimentos orgânicos detêm maiores quantidades de poliaminas no geral, mas esses níveis foram encontrados em valores inferiores à quantia tóxica e ao teor presente em carnes.
Para a pós-doutoranda, essas maiores concentrações nos tecidos de vegetais orgânicos podem estar associadas à resistência que essa substância confere às plantas, preservando-as dos diferentes tipos de estresse.
As pesquisas desenvolvidas por Maria Rosecler e Suraya que tiveram, respectivamente, supervisão e orientação da professora Giuseppina Pace Pereira Lima, do Departamento de Química e Bioquímica do IB, ainda identificaram menor concentração de nitrato, substância altamente carcinogênica, em plantas oriundas do sistema orgânico.
Cozimento
Maria Rosecler também analisou se há perda de carotenóides após o cozimento de beterraba, brócolis, cenoura e couve. Ela descobriu que, depois desse processo, alguns produtos orgânicos perderam menos ou passaram a apresentar maior teor dessa substância.
“Um exemplo é a polpa de cenoura que teve um aumento de 39,22%, enquanto as convencionais acumularam apenas 4%”, explica.
Em brócolis, foi constatado um aumento proporcional de carotenóides nos dois modos de cultivo. No caso da beterraba, as perdas foram menores no sistema de produção orgânico, sendo que o nível de redução de carotenos foi maior com a ampliação do tempo de aquecimento do vegetal."
Fonte: Entrelinhas
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